Por que é tão difícil querer viver daquilo que ama?
Faço essa pergunta a mim mesmo praticamente todos os dias. E
quando aceitei a árdua tarefa de entregar a minha vida em detrimento de um sonho “não
convencional”, me deparei com questionamentos e profundas dúvidas quanto ao meu
rumo na vida. E tal avalanche de sentimentos é um perigo constante na vida de
humildes... Sonhadores. “Será que estou no caminho certo?” é o tipo de pergunta
que antecede cruéis crises existenciais e até desistências, pois o caminho
quase sempre não é simples e nem rápido.
No momento em que tomei um dos meus plot-twists mais perigosos, alvejar a carreira de cineasta e escritor,
serei franco: Não sabia que seria tão problemático. Digo isso porque tal compromisso
não é, meramente, uma simples “decisão
para o meu futuro”, e sim algo que me exigiu uma das coisas mais difícies que o
ser humano pode se dispor: Sacrifícios. Isso somado com anos de dúvidas, incertezas, desperdícios e solidão, o que acarretaram em mim a perda de muitas oportunidades e a negação de certas responsabilidades.
Mas como diria minha mãe – “não vou tirar meu corpo fora" -,
e pôr somente culpa nos outros e na situação a qual sou empregado. Não. Eu,
sim, cometi muitos erros nessa estrada de quase 4 anos. Negligenciei certas
responsabilidades, desperdicei outras, demorei para agir em situações que me
demandaram maturidade... Enfim, fui um ser errante. E ainda serei, poque quando
tomamos decisões difícies como essas, sempre há em nós a ingênua liberdade de
construir “O Plano”. O dito plano que
parece perfeito aos nossos olhos, que praticamente traça todo o caminho e nos acondiciona a dizer: “Não
tem como falhar!” ou “Vai dar certo porque ninguém nunca pensou igual a mim”. E
a partir desse ponto, achamos que este é o único item a ser levado em nossas mochilas
de aventureiros. E assim, inocentemente, partimos em busca do nosso tão sonhado Eldorado.
Tal despreparo que nos reveste no começo da jornada é
necessário, acredito eu, apesar do subsequente processo de aprendizagem, o qual é doloroso. Deste modo, a aventura não demora muito para mostrar a sua verdadeira face,
totalmente diferente do que imaginamos. E agora, eu entendo mais do que poderia
entender há anos atrás (E entendo menos do que entenderei daqui alguns anos) o
quão erronêa é nossa percepção quanto a TUDO. No caminho nos deparamos com
tantos obstáculos e imprevistos que não me surpreendera o expressivo número de
aventureiros que desistem. Abandonam sua mochila, seu caminho, seu ideal e se
entregam à imutável monotonicidade da "vida comum". E isso é doloroso de assistir, pois a
cada minuto que prossigo nesta estrada temo que o mesmo possa acontecer comigo.
“Mas logo agora? Tão longe de onde parti? O meu destino
parece tão próximo de mim”
A perspectiva é cruel com os sonhadores. O êxito sempre
parece estar na próxima esquina, no próximo quilômetro. Mas, não! Ele ainda está
longe, pelo menos para mim. E quando me deparo com a dificuldade de responder a
simples pergunta: “O que você faz?” ou “O que você quer fazer da vida”; vejo o
quão instável é este terreno que piso, e traiçoeiro também.
“Por que é tão dificil querer fazer o que ama? Ter que
sacrificar certos padrões para atingir este objetivo?"
Vendo todas essas perguntas feitas nesse texto, vou tendo ainda mais noção da complexibilidade embrulhada em minha decisão. Além de assistir ao vivo o quanto isso influencia em
mim hoje, principalmente em estado de psicológico: Como se eu assistisse o rumo da minha vida deslizar-se pelos meus
dedos e eu, totalmente vunerável, não consigo fazer nada para impedir. Exatamente assim, sem o controle das coisas.
“Parecia tão mais simples no meu plano, Deus!”.
Porém, digo a vocês que tomo a decisão de continuar nessa
aventura. Apesar, é claro, de admitir que é necessário realizar certas mudanças. Não
no percurso, mas em mim. Eu já caminhei, sacrifiquei e acreditei tanto que não acho
justo entregar-se ao fim. O fardo é dificil e chego, às vezes, pensar que não
vale a pena desejar viver um sonho. Mas algo no fim desta estrada me dá tanta
esperança que só saio do meu alvo a força. Posso dizer que me tornei alguém obcecado
pelo final da estrada.
E você, sonhador, que passa pela mesma aventura que a minha
e talvez esteja no meu lado nessa missão, lhe digo: Não entregue-se. Os vales,
os rios e frescor da paisagem que o cerca na estrada é tentador, eu sei. Mas que tais
maravilhas sejam apenas descansos para tua jornada, não morada. O teu sonho vale mais
do que isso. Ele não só é o lugar que tu verdadeiramente precisas, mas também o
lugar que você quer estar E isso é o mais importante..