segunda-feira, 17 de março de 2014

Os Sonhadores

Por que é tão difícil querer viver daquilo que ama?

Faço essa pergunta a mim mesmo praticamente todos os dias. E quando aceitei a árdua tarefa de entregar a minha vida em detrimento de um sonho “não convencional”, me deparei com questionamentos e profundas dúvidas quanto ao meu rumo na vida. E tal avalanche de sentimentos é um perigo constante na vida de humildes... Sonhadores. “Será que estou no caminho certo?” é o tipo de pergunta que antecede cruéis crises existenciais e até desistências, pois o caminho quase sempre não é simples e nem rápido.

No momento em que tomei um dos meus plot-twists mais perigosos, alvejar a carreira de cineasta e escritor, serei franco: Não sabia que seria tão problemático. Digo isso porque tal compromisso não é, meramente,  uma simples “decisão para o meu futuro”, e sim algo que me exigiu uma das coisas mais difícies que o ser humano pode se dispor: Sacrifícios. Isso somado com anos de dúvidas, incertezas, desperdícios e solidão, o que acarretaram em mim a perda de muitas oportunidades e a negação de certas responsabilidades.

Mas como diria minha mãe – “não vou tirar meu corpo fora" -, e pôr somente culpa nos outros e na situação a qual sou empregado. Não. Eu, sim, cometi muitos erros nessa estrada de quase 4 anos. Negligenciei certas responsabilidades, desperdicei outras, demorei para agir em situações que me demandaram maturidade... Enfim, fui um ser errante. E ainda serei, poque quando tomamos decisões difícies como essas, sempre há em nós a ingênua liberdade de construir “O Plano”. O dito plano que parece perfeito aos nossos olhos, que praticamente traça todo o caminho e nos acondiciona a dizer: “Não tem como falhar!” ou “Vai dar certo porque ninguém nunca pensou igual a mim”. E a partir desse ponto, achamos que este é o único item a ser levado em nossas mochilas de aventureiros. E assim, inocentemente, partimos em busca do nosso tão sonhado Eldorado.

Tal despreparo que nos reveste no começo da jornada é necessário, acredito eu, apesar do subsequente processo de aprendizagem, o qual é doloroso. Deste modo, a aventura não demora muito para mostrar a sua verdadeira face, totalmente diferente do que imaginamos. E agora, eu entendo mais do que poderia entender há anos atrás (E entendo menos do que entenderei daqui alguns anos) o quão erronêa é nossa percepção quanto a TUDO. No caminho nos deparamos com tantos obstáculos e imprevistos que não me surpreendera o expressivo número de aventureiros que desistem. Abandonam sua mochila, seu caminho, seu ideal e se entregam à imutável monotonicidade da "vida comum". E isso é doloroso de assistir, pois a cada minuto que prossigo nesta estrada temo que o mesmo possa acontecer comigo.

“Mas logo agora? Tão longe de onde parti? O meu destino parece tão próximo de mim”

A perspectiva é cruel com os sonhadores. O êxito sempre parece estar na próxima esquina, no próximo quilômetro. Mas, não! Ele ainda está longe, pelo menos para mim. E quando me deparo com a dificuldade de responder a simples pergunta: “O que você faz?” ou “O que você quer fazer da vida”; vejo o quão instável é este terreno que piso, e traiçoeiro também.

“Por que é tão dificil querer fazer o que ama? Ter que sacrificar certos padrões para atingir este objetivo?"

Vendo todas essas perguntas feitas nesse texto, vou tendo ainda mais noção da complexibilidade embrulhada em minha decisão. Além de assistir ao vivo o quanto isso influencia em mim hoje, principalmente em estado de psicológico: Como se eu assistisse o rumo da minha vida deslizar-se pelos meus dedos e eu, totalmente vunerável, não consigo fazer nada para impedir. Exatamente assim, sem o controle das coisas.

“Parecia tão mais simples no meu plano, Deus!”.

Porém, digo a vocês que tomo a decisão de continuar nessa aventura. Apesar, é claro, de admitir que é necessário realizar certas mudanças. Não no percurso, mas em mim. Eu já caminhei, sacrifiquei e acreditei tanto que não acho justo entregar-se ao fim. O fardo é dificil e chego, às vezes, pensar que não vale a pena desejar viver um sonho. Mas algo no fim desta estrada me dá tanta esperança que só saio do meu alvo a força. Posso dizer que me tornei alguém obcecado pelo final da estrada.

E você, sonhador, que passa pela mesma aventura que a minha e talvez esteja no meu lado nessa missão, lhe digo: Não entregue-se. Os vales, os rios e frescor da paisagem que o cerca na estrada é tentador, eu sei. Mas que tais maravilhas sejam apenas descansos para tua jornada, não morada. O teu sonho vale mais do que isso. Ele não só é o lugar que tu verdadeiramente precisas, mas também o lugar que você quer estar E isso é o mais importante..

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