Miomir
anda pelas ruas da cidade. Ele tenta gostar disso por precisar fazer isso, pois
o isso é o seu trabalho. Ele sempre fora determinado em considerar-se um
"guerreiro" livre de amarras, espontâneo e desinteressado por quais
rótulos eram conferidos sua pacata pessoa. Mas ultimamente, em vista do quanto
isso é desconfortável, ele vem sentindo as pernas pesarem. Olhando ao redor de
suas andanças, Miomir vislumbra uma realidade mais perturbadora do que seus
olhos, pertinentes otimistas, faziam-lhe enxergar:
Correntes.
Elas serpenteiam
pela calçada e asfalto, amontoam-se em casas e pessoas, e atingem distâncias
imensuráveis. Preenchem o céu, ar e chegam a estremecer até mesmo o interior do
mundo em que este jovem vive. Forçar as pálpebras, o pobre Miomir arriscou, no
entanto, refutar a sua mais nova visão do mundo, mostra-se ineficaz. Anos de
sossego e independência desvanecem conforme sua vista torna-se cinza. A
admiração permite que a ponta de uma corrente passe rente a ele, uma corrente
ausente de um cativo. O tilintar desta gela a espinha de Miomir, gerando um
impulso, inútil, de correr. Este, porém, era o resultado da negligência. O fim
de meios os quais Miomir não procurou esforços em extinguir de sua vida. Ele
permitiu esta prisão, coexistiu com a aproximação das correntes, e agora elas
estão ali para levá-lo.
Como um
criminoso encontrando a detenção, ele reage. Mas agora agarrado pelos pés que
antes guiavam uma vida independente, Miomir apenas pode permitir a si olhar ao
redor mais uma vez. Neste redor, percebe que as pessoas aceitam a prisão. Trabalham,
estudam, amam, enfim, vivem com elas. Ele até mesmo ver pessoas matando por
elas, destruindo futuros com elas, roubando ou guerreando por elas. Então Miomir
entende que é o único ali resistindo à prisão, ecoando e gastando seu fôlego
para o vazio, para um mundo que não o enxerga mais. As amarras, porém,
apresentam-se como anjos libertadores e recompensadores, munidos de felicidade
e prazer pleno. E uma vez selada a infeliz epifania, Miomir, numa compreensão que
jamais ocorreria no que agora ele pode nomear de "antigo eu", admite
que não seria tão ruim ser um prisioneiro... Um escravo dos cifrões.
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