Despertado antes do canto, eu fui. Vontade alguma me ocorria para nada, pois o sono ainda me entorpecia, vinda rotina. Sob a míngua luminosidade da matina, expus-me ao frio que molengava a todos. Os mesmos fulanos se arrastando como lesmas pelo asfalto áspero e bocejadores da preguiça iam ao longo como um coral lamentoso, meu âmbito. De qualquer lugar que convém haver calor ou cantarolar de pássaros, sinal jamais deu e mínima acerca, ninguém ofereceu. Assim o tempo decorreu e mantém. O clima era tão pra baixo quanto a neblina que marchava rente ao chão em modorrenta lentidão. Nós, meros lerdos, cuja as roupas eram as nuvens, marchávamos com igual indiferença, obedientes ao sistema, como sombras carentes de corpo e portadores de cegueira cinza.
Em algum de repente mais súbito que um segundo, cessei meus passos desleixados e me entreguei a um questionamento, coisa qual acho cansativa - E reintegro aqui que não há exatidão na ordem de tais ocorridos, pois procrastino. E digo-lhe mais, parei não pela pertinência do pensamento, petulante comichão muscular da consciência, mas, sim, pelo doce que emanava a essência, diferente. Rasguei ao meio uma volta e minha farda junto, contrariei a manada degustando o teor ácido da rebeldia e vi o turvo dissipar-se, derramando cor das bordas até o núcleo. Não costuma ser costume, tampouco prudente, desligar-se do coral. Entretanto, inédito acorde seduzia e eu me entregava à travessura. Minha alma despida da neblina havia e então achei conveniente correr, como um símbolo de liberdade, clichê.
O frescor trouxe uma brisa a tons de amarelo que povoaram todas as dimensões, sendo aquele colossal tapete azul, meu novo acorde, quebradiço, mas tão reconfortante quanto salgado. Como criança, experimentei tudo com euforia e edifiquei coisas à base de areia e ingenuidade. Brinquei até me esquecer do começo ou do fim. Vivi a cor, a natureza, a paz e a liberdade. Eu percebi. Senti-me eterno. E agora rio sem-graçado frente às palavras que escrevo. Ó, caro leitor, perdoe este miserável lunático. Ele acha graça em demasiar as coisas e divaga sobre fantasias romantizadas entre os intervalos de remédios. Todavia, nem tudo fora fruto de devaneios, pois punhos ferozes seguem toda vez que relato tal acontecido e isso inquieta-me mais do que qualquer comichão. Não mais percebo dor ou visão, devido a punição em locar-me dentro de neblina mais densa que antes.
Vive-se tempo de mínguas. Se algum dia, por acaso ou querer divino, alguém achar essa prosa, terá destransformado minha liberdade da imaterialidade e poderá igualmente cessar os passos desleixados, caso cor desmanche a neblina. E enfim, existência menos vão teremos feito.
Boa sorte, carta minha.
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