Há na jornada de cada herói a “provação máxima”, aquele
momento onde monstros e os mais dos terríveis males precisam ser enfrentados. É
aquele instante em que as forças, antes inesgotáveis, agora são escassas. O horizonte
passa a ser turvo, incerto, quase uma imagem abstrata de algo que um dia fora
uma meta. É difícil prever um fim quando se encontra em tais condições, pois o
herói está sozinho - Ele precisa estar sozinho. Seus coadjuvantes, ajudantes, mentores
e todo resto tornam-se periféricos, pois esta peleja pertence exclusivamente a ele.
É a forma que a vida, cruelmente, escancara que o fim disto é responsabilidade dele,
seja o que for. E talvez por se mostrar tão cruel com as chances, estes
momentos necessários da jornada sejam o motivo da morte de tantos ideais e
objetivos.
O herói tenta fugir, tenta esconder a sua face, embrulhar-se
até que desapareça. Mas para onde ele vai a provação o persegue, porque ela não
é externa, ela faz parte dele. E quando consegue aceitar a necessidade de
enfrentar o inevitável, sua maior certeza é a do fim, por mais que outrora ele
tenha sido capaz de superar outros conflitos - Nenhum se compara a este. Então, a
espada é desembainhada, as últimas forças são tomadas e o encontro ao que o acaso
permitir é aceitado. Neste momento, não importa o que fora aprendido, ganhado
ou conquistado, a única coisa que importa é este fardo terminar – por mais que o seu triunfo seja ansiado por tantos terceiros.
Um alívio com a sensação do iminente fim é sentido. No
entanto, uma força incansável faísca dentro de seu ser, no mais profundo dele.
É de natureza desconhecida, começa como uma imperceptível fagulha até preenchê-lo por completo. É um outro lado do herói o
qual ele não conhecia até então. O que era antigo e velho, dar lugar ao renovo.
Este lado parece não desejar o fim: Ele quer vencer, ele pode conquistar. Jogado, antes da grande batalha, numa dimensão
diferente à atual, o herói espanta-se. Nesta realidade paralela, dois tons são
suficientes: o branco e o negro; o sim e o não; o começo e o fim; a vida e a
morte. Uma explosão cegante inicia-se, ele não é atingido por ela, somente testemunha
algo bonito e único - Alguns costumam chamar isto de redenção. O clarão da
explosão mata suas conclusões pessimistas, porém mata o seu antigo eu também,
aquele descrente das próprias forças. Ele renasce logo em seguida e os tons
modeladores desta realidade fundem-se e tornam-se um novo espectro, um artefato
que pode ser grandioso, mas que agora cabe em suas mãos.
A recompensa por esta batalha vencida é o elixir, o artefato
que o ensinará simplesmente a seguir em frente, a experiência para superar os seus
demônios mais tenebrosos. Voltar a desconfiar de si nos momentos de provações
faz parte deste arquétipo, mas basta encontrar aquela pequena faísca para desencadear
o descontrolado entusiasmo que nos guiará a vitória de cada luta. Tudo isso
porque somos grandes, somos fortes... Somos heróis.
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