Ela e ele estavam no fim corredor. Bem, talvez não fosse o fim exatamente, levando em conta a figura de uma escada sob uma débil iluminação, situada logo além deles. Aquilo muito bem poderia ser o começo do corredor, aquilo muito bem poderia ser eles, dentro daquela escuridão conveniente e longe dos olhares dos quais fugiam. Na prática, essa ideia não havia passado na cabeça dele, ela, porém, achou que sim, então ele passou a achar que sim, ele quis que sim, quis que ocorresse. Mesmo contra a vontade unânime de seus corações, eles escolheram o fim ao invés do começo, e portanto pararam em uma porta. Por simplesmente ser quase impossível fazer o que ansiavam, escolheram a luz.
O percurso até lá, em si, nascera encharcado de cautela e preocupações, já que ele tinha diversos significados, especialmente os ligados ao desejo de fuga. Muito mal sabiam eles que a liberdade jamais brilharia de forma habitual, e com o preço habitual. Estavam aprisionados e para sempre seria assim. Foi por isso que, como em todas as outras vezes, pararam naquela porta e não foram além, pois além havia a escada, a escuridão e a excitação, e as correntes não permitiam tal banquete. Entretanto, apesar de todo o cuidado, os olhares julgadores ainda corriam eufóricos ao derredor, invisíveis e astutos. Ela tentava pegá-los, pelo simples prazer de ser capaz de percebê-los e prová-los errados; Ele, por outro lado, os ignorava, não porque era a melhor opção, mas porque era a menos dolorosa.
O percurso até lá, em si, nascera encharcado de cautela e preocupações, já que ele tinha diversos significados, especialmente os ligados ao desejo de fuga. Muito mal sabiam eles que a liberdade jamais brilharia de forma habitual, e com o preço habitual. Estavam aprisionados e para sempre seria assim. Foi por isso que, como em todas as outras vezes, pararam naquela porta e não foram além, pois além havia a escada, a escuridão e a excitação, e as correntes não permitiam tal banquete. Entretanto, apesar de todo o cuidado, os olhares julgadores ainda corriam eufóricos ao derredor, invisíveis e astutos. Ela tentava pegá-los, pelo simples prazer de ser capaz de percebê-los e prová-los errados; Ele, por outro lado, os ignorava, não porque era a melhor opção, mas porque era a menos dolorosa.
Sim, ela e ele estavam no fim do corredor. Sim, ela e ele pararam onde poderiam ser vistos, pararam em uma porta. Pela sorte de olhos não serem capazes de ouvir, eles agora tinham privacidade, por menor que fosse, para conversarem sobre os infinitos obstáculos que os impedem de obter um contato mais genuíno. Obstáculos, esses, que são capazes de se materializar em qualquer coisa, até mesmo em uma porta. Sim, eu disse que ela e ele haviam parado em uma porta, não disse? Porém, mais parecia que tinha sido a porta que escolhera parar ali, justamente entre os dois. A dura verdade é que aquela porta sempre esteve lá, muito antes deles desconfiarem da existência um do outro, quiçá antes mesmo de ambos terem nascido. Mas se torna divertido, por vezes, pensarmos nesse tipo de simbolismo: No meio do caminho tinha uma porta, tinha uma porta no meio do caminho - e antes fosse só uma pedra. Eles não percebiam o que aquela porta representava no momento, provavelmente distraídos pela insistente procura por respostas que explicassem toda a situação, um esforço quase inútil. Dúvidas mais nasciam do que morriam e, durante esse ciclo, sem o querer das partes envolvidas, a porta ia se expandindo entre eles. Dentro da abertura existia uma força física que empurrava de volta ao lugar adequado aquele que tentasse ignorar as regras, desconsiderar as dificuldades. A força tinha diferentes faces, a face de uma proibição, uma culpa, uma vida antecedente; a face de um medo, um princípio, um eclipse. Para uma pessoa comum, era apenas uma porta com uma sala vazia, para eles, não. Era um tudo vestido de nada, assim como um começo vestido de fim.
Tão perto e tão longe, eles conversaram, cumprindo o rotineiro parto de dúvidas. Mas a angústia valia a pena, porque apreciavam a companhia um do outro. Trata-se de uma história triste, muito triste, mas também valia a pena, porque apreciavam o olhar e o sorriso um do outro. Os pensamentos são sempre mais rápidos que as palavras. Eles sempre atropelam tudo, inclusive as diversas faces de uma força inibidora. Embora exista o partir dos corações, tais momentos servem para tentar remendá-los, enquanto continuam a quebrarem-se, selando um completo paradoxo.
O tempo voou na velocidade dos pensamentos e, quando ela e ele deram por si, já era tempo de ir. A porta cumpriu sua função com sucesso. Ainda restava muito o que dizer e fazer. Mas para quê, afinal? Eles bem conheciam a gravidade de suas ações concretas e hipotéticas. Além do mais, algumas poucas coisas merecem o campo do subentendido para que haja certa magia. Logo, conforme foram se afastando da porta, a mesma retornava ao seu aspecto anterior, o de simplesmente ser uma fenda em uma parede, nada mais. Os olhares aquietaram-se e retomaram o humor padrão. A luz que se ausentara da escada por todo aquele intervalo de tempo, voltou a resplandecer os degraus. Parecia que não, mas tudo estava recobrando a normalidade. Eles chegaram ali juntos. Eles foram embora separados. Não podiam bobear, com certeza a essência do obstáculo deixou aquela porta para poder possuir qualquer outra coisa.
A questão é quanto mais ela e ele se afastam, mais eles se atraem. Essa, aliás, é a parte mais triste deles. A parte da divisão do coração com a contradição dos atos. Quem sabe um dia alguém explique isso... Explique ela e ele.