quarta-feira, 12 de junho de 2019

Burity

Quando estou a pensar,
Penso em você.
Se em mim há razão para sorrir,
Sorrio por te ter.
Onde quer que eu vá,
Vou para te ver
E dizer
Como é bom amar você.

Te magoar com os erros que teimo cometer
São as partes de mim que tu não mereces ter
Pois quando os teus olhos castanhos
Com ansiedade e pranto torturo 
Torno-me às flores um estranho
Já que preferem teu riso dolce
Che tanto amo, mais que tutto
Ah... "sei bella" como una canção de Boccelli
Forte também, apesar da altura que com uma régua se mede
E calma, amor, não leve para o coração
Este teu órgão já tão sobrecarregado
De sentimentos, medos, aflição
Há uma razão para todos os fardos
Que te causam noites em claro
Sem mencionar o monte de indecisão
Mas sejamos rebeldes, igual ao seu cabelo na maioria dos dias
Que tal sobrevivermos
Entre exageros de um amor chiclete e brigas?
Já tentei em ti adentrar inúmeras vezes
Para entender o que se passa no conturbado mundo de Burity
E não consegui, bem que gostaria
Mas nem preciso na verdade
Pois no momento em que tudo desmoronar, ruir
Por gratidão, reciprocidade
you can fall on me
E eu te direi que...

Quando estou a pensar,
Penso em você.
Se em mim há razão para sorrir,
Sorrio por te ter.
Onde quer que eu vá,
Vou para te ver
Sem me esquecer
Que abençoado sou
Por teu amor merecer.

quinta-feira, 2 de novembro de 2017

Uma Carta ao Meu Mundo

Agora que todo o alvoroço passou e a visão do cenário devastado que me cerca preenche minha fatigada consciência, a seguinte pergunta me escapa: Por que fiz o que fiz?

Talvez você não queira ouvir minhas palavras, porque é tarde e fui eu quem trucidou suas faunas, poluiu seus rios e murchou as flores que representavam a singular beleza da sua face; logo eu, que um dia foi o porquê de seus brilhos mais sinceros. Mesmo assim, devo confessar meu egoísmo e imaturidade. Por quê? Bom, porque foi necessário ser muito egoísta para preocupar-se mais com a minha concepção de conforto do que com o empobrecimento do seu ar. Se hoje o clima está insuportável, tornando furacões quase diários, é porque quando se pediu cooperação, não cooperei. Foram tantos protocolos e acordos que nem recordo em qual engodo depositamos maior esperança. E enquanto isso, seu pólo norte se derre... Não, EU o derreti; tornando submersas superfícies antes secas, até ao ponto de não reconhecermos mais um ao outro.

Provavelmente, você deve estar se questionando por que repetir coisas já sabidas, uma vez que as palavras produzem erros, não os desfazem. Mas se eu pudesse regressar no tempo – o que é clichê, porém, sincero –, colocaria as suas necessidades à frente das minhas e faria de tudo para frear os óxidos, monóxidos e dióxidos dos interesses gananciosos que ignoraram seu sofrimento.

Não sei o que será de nós daqui pra frente, pois o solo está ferido; e se o ditado alega que “quem ama, cuida”, não venho fazendo a minha parte. Contudo, não me importo mais com os meus porquês. Pode ser tarde demais para pedir outra segunda chance. Mas a vontade de ver tua face irradiada de novo, faz-me crer que não é. Porque, na verdade, nunca se tratou de te amar mais, ou te amar menos. Tratou-se de te amar melhor; melhor do que eu amo hoje.

E eu vou tentar fazê-lo...

Vamos tentar. 

Mais uma vez.

sábado, 8 de abril de 2017

Como Esquecer?

O Tempo.

Há muita gente que passa a vida se preocupando com ele. Não, muita gente não... Todo mundo, pelo menos uma vez na vida. Pra ser sincero, uma vez a cada dia. Bom, acho melhor dizer “uma vez a cada segundo” – ou diria milésimo? Ah, tanto faz, tudo é tempo e a todo tempo nos preocupamos com o tempo, porque pensamos estar sem... Tempo. E usamos tempo pra fazer isso.

Confuso, não?

Pense nos relógios. Solar, de bolso, de pulso, de beira-estrada com publicidade em cima, de rádio, de celular. Pense na falta que eles fariam caso todos nos abandonassem ignorantes ao nosso próprio tempo. Pois é, um caos. Porque não é difícil pensar em pelo menos milhares de milhões de ocasiões onde ter um relógio ao alcance é uma verdadeira bênção, pra nos situar em qual trecho estamos nessa estrada feroz chamada existência. E quem pode lutar contra esta preocupação instintiva? Vai ver, é ela quem tem mantido nossa espécie viva – o que por si só já é bastante tempo.

Mas há momentos, na vida, em que o tempo é... O tempo é nada. É irrelevante, como uma partícula de poeira numa estante que acabou de ser limpa. Ela está lá, porém não nos alcança. Neste instante, “ser abandonado” por todos os relógios é favor; não maldição. Sim, estou sendo contraditório, pois é assim que enganamos o tempo.

E no canto daquele lugar nos sentimos assim: senhores; minha cúmplice e eu, banhados pela luz fluorescente e cercados pela doçura da nossa longa conversa. Bem ali, naquele cantinho. Éramos, ali, senhores do tempo. E para tal feito não houve necessidade em derrotá-lo e fazê-lo refém. Bastou ignorá-lo, depositando toda a nossa atenção em coisas muito mais importantes do que ele. Os olhos que se olham; as palavras que se ouvem; os toques que se tocam; a privacidade que é conveniente; os desejos que não se convergem. Tudo feito com a paciência de quem – olha só que irônico! – faz um relógio.

Aquele momento, aquele lugar... Aquele canto estava imune ao tempo. Não havia pressa, senão para conhecer ainda mais um ao outro.

- Quando eu era criança, eu fazia... – ela começou a dizer.

- É verdade? Eu também. Bem, só com a diferença que eu já...

- Jura? Eu também! Adorava fazer isso.

- Mentira. Pensei que eu era o único no mundo.

- Tá pensando o quê, rapaz, eu era mestre nisso.

- Uau.

- Que coincidência bizarra, não é?

- É – ri abobalhado. – Muita.

Depois vinham as questões mais sérias:

- Foi um momento muito difícil, eu ficava triste e... – Dizia ela com a voz salpicada de choro, ou algo próximo disso.

- Eu posso imaginar. Sinto muito.

- Já passou.

- O que mais aconteceu?

- Aconteceu que certo dia tudo piorou de novo e...

- Caramba. Passei por um problema parecido com esse, sabia?

- É mesmo? Como você se sentia?

- Mal, né? Ainda mais porque a solidão...

- Exatamente. Eu sinto muito.

A cada palavra, a cada sílaba, a cada morfema trocado, nós dois mergulhávamos mais fundo um no outro. Quando a profundidade alcançou a distância considerável, fomos capazes de enxergar nossos pensamentos. E não foi nenhuma surpresa ver nossos rostos projetados neles. Mesmo assim continuávamos cautelosos, mergulhando mais, rumo ao centro produtor de todo o sentimento que borbulhava em cada gesto e olhar.

Deveríamos estar em outro lugar, mas parecia que nada mais existia – e de fato não existia. Os corações foram encontrados no fim do mergulho, pulsantes e em cor viva, liberando todas as borboletinhas que voavam para o estômago. Que lugar perfeito para se apaixonar! Seu olhar, quando me acariciou, fez-me embaralhar as peças da minha vida – e o jogo mal havia começado. Sorri diante da sorte de ser olhado por aquele olhar, entendendo o que tudo aquilo significava.

Minha mão agora tinha o seu cheiro, pois ela corria, leve como uma pena, pela face lisa e delicada. As retinas dilataram-se diante da força do desejo e o sangue contaminara-se pela ansiedade que transitava sem freio. “Sorte nossa estarmos sentados”. No entanto, se olhássemos com a atenção devida, constataríamos que estávamos voando, mais perto de estrelas do que de nuvens. Frenéticos e imóveis, nossos corpos alinharam-se. Impressionante como uma conversa pode mudar a sua vida. A minha estava mudando e mudando diante de mim.

O autocontrole até aqui vigente possuía seus motivos para existir, só que tal como todo o resto, eles tornaram-se nulos também. E foi assim que o tronco dela cedeu em minha direção. A árvore que eu desejava ter sobre mim finalmente veio. Os lábios tocaram-se, torceram-se, molharam-se. As línguas chuparam-se e salivaram uma sobre a outra, transmitindo informações que não se acha em palavras. Aguentei firme a dose graças ao sutil apoiar das mãos, uma no meu peitoral e a outra sobre a minha perna. Pude sentir seus seios acolchoarem-me no tórax quando avancei num ataque de paixão. As curvas foram contornadas pelas minhas mãos e tomei a liberdade de apertá-las, como se fosse possível fundirmo-nos.

Dançávamos como dois apaixonados. Era como se agora vivêssemos dentro de nós mesmos, num universo paralelo e só nosso.  Não me pergunte quanto tempo durou. Na hora queríamos que fosse infinito. Mas não foi. Minha boca fora levemente mordida pelos seus dentes perfeitos. Ainda estava me acostumando com os nossos beijos – estávamos ficando bons nisso, aliás.

Passado o ápice, os braços compuseram um abraço quente e cheiroso. Cabelo fazendo cócegas, respiração úmida rente aos ombros, um silêncio solene e cheio de significados... Parece loucura, mas eu me senti completo ali, naquele cantinho. Entre um suspiro e um selinho no meu ombro, eu pude ouvir um...

- Eu te amo.

Veio assim, do nada. Eu nem vi chegando. E, quando chegou, eu pensei que estava sonhando. Não tive chance para me preparar. A verdade é que ela tinha sido mais corajosa do que eu para dizer aquelas três palavras. Minha primeira reação foi ficar atônito, desnorteado; ninguém nunca dissera isso para mim. Eu queria beijá-la, tê-la, olhá-la, tocá-la, abraçá-la, carregá-la, tudo ao mesmo tempo, até que compreendesse que o Amor era recíproco. Eu realmente pensei estar sonhando.

O abraço foi aos poucos se desfazendo e dando lugar a um fitar de olhos apaixonados. Jamais voltaríamos a ser aquelas crianças que falávamos que éramos. Pensávamos em como seria maravilhoso termos nos conhecido antes. Contudo, a vida tem as suas ironias e contradições que são mistérios insolúveis. Mas eu realmente achei estar sonhando. Sonhando um sonho junto a ela, a árvore do meu habitat. Graças a Deus tudo era real.

sexta-feira, 20 de janeiro de 2017

Itambaraçá

Sobre esta rua, nesta minha rua, uma chuva não convidada faz estadia. Ela veio com a naturalidade que não se pode deter, pois o tempo e o seu incorruptível andar estavam como fiéis aliados, em trajes finos e solenes, preparados para ocasiões formais e sérias. Juntou-se alguns fatores facilitadores, como inércia e vulnerabilidade crônica, e pronto, nuvens enegreceram como roupa branca suja-se na lama. Quem poderia presumir? A hora de sua chegada foi a hora da nossa vontade de enxotá-la, num timing mais humano impossível. Se esta chuva renova ou não o antigo solo, hoje muito encharcado, não se sabe ao certo. Na verdade, se sabe, sim. Ou não. Sei lá. O fato irrefutável da prosa é que está chovendo.

Não é garoa fina nem torrente que causa enchente. É chuva de meio termo, como a vida ou a morte, que jamais tomam partido de um lado. Não serve para beber, mas serve para banhar, até mesmo aqueles que não a querem como a água que os banham. Serve principalmente para deteriorar a fotografia. A fotografia que cada morador desta rua carrega nas mãos da mente, guardada pelo íntimo afeto e nostalgia que conduz as lágrimas, as quais se perdem com os pingos. A querida fotografia vai perdendo seu brilho conforme os dias passam. Sabemos que é natural, só não sabemos lidar com isso. Nela estamos nós, os habitantes, desde o passado ao presente, desde o novo ao mais velho, ligados por mais coisas que números e muros. Todos nós expostos às gotas de meio termo.

Alguns estão sendo manchados, desbotados ou borrados. Mas há os que estão sendo apagados, deixando um vazio no quadro. Não será preenchido. E com o assistir da dança desta borracha imperativa, assistimos sincronicamente o passado se tornando mais passado ainda; memórias de um tempo atrás, em lembranças de um tempo demais; e a vida, que tanto parecia longa e invariável, em um choque de realidade mordaz. A chuva persiste e a correnteza por ela criada leva aqueles que não imaginávamos que iriam, fazendo da ausência da despedida digna nosso maior pesar. Seja querido ou não, amado ou não, é do passado que estamos chorando; o passado que em tudo tinha a ver com o presente e em nada terá com o futuro.

Tudo isso vai com a chuva. Somos os anfitriões da vez. Peço a Deus pela alma dos que se foram e pela vida daqueles que ainda estão sob ela, pois esta é a dádiva que chamamos de vida. Esta é a rua que não morrerá. Esta é a chuva que uma hora vai parar. Esta é a fé que não perecerá. Esta é a gente que não se esquecerá. Este é o ciclo, que para sempre se transformará.

E caso esteja achando que ando falando muito de chuva, saiba que a deste texto é diferente, é algo além; a espécie de chuva que não desejo pra ninguém. Que a proteção do divino Senhor esteja com todos, amém.

quarta-feira, 18 de janeiro de 2017

A Indignação de Um Nerd Interior: Assassin's Creed

Na última quinta (12) fui ao cinema pela primeira vez no ano, o que já é um baita alívio, porque 2016, meu Deus do céu, que aninho pobre de idas ao cinema! Fui pouquíssimas vezes mesmo (mas também vou te falar, algumas dessas "vezes" foram, pra mim, as melhores e mais maravilhosas. Xiu!). Sem sacanagem, acho que devo ter ido mais ao médico do que ao cinema. E isso me faz lembrar de um tal projeto "Cinemas do Rio 2016", onde a minha intenção era ir em TODOS os cinemas da cidade, todos, numa verdadeira peregrinação cinéfila. Mas enfim, eu não completei projeto nenhum, fui pouco e já perdi o fio da meada da conversa - apesar disso ser bem o feitio do filme que falarei. Mas, calma, chegaremos lá.

Peguei meu ânimo e parti pro cinema, né, eu e mais dois amigos, para assistir nada mais, nada menos, que ASSASSIN'S CREED. Pra quem não tá muito por dentro, nessas horas, boia legal, porque, oras, vê um fuzuê danado por causa do lançamento de um filme que tem no nome a palavra credo. E credo mesmo, valha-me Deus! Muito credo, cruz credo, vá de ré Satanás e dez Pai nosso pra esse filme... Mas vou me conter de novo - ao menos tentar - para não perder a razão e acabar parecendo um mimizador de internet. Então lá fomos nós três assistir ao troço. Desde agora aviso aqui que nenhum de nós estava com esse tal de fuzuê no couro. Longe disso, muito longe. Fomos de maneira totalmente okay, sem empolgação doida ou expectativa alta. Éramos apenas três caras indo ao cinema e só.


Primeiro vou situar as coisas:

O filme é uma adaptação de uma famosa franquia de jogos eletrônicos que pertence à francesa Ubisoft - tá aí o motivo da mobilização dos nerds. No elenco principal estão Michael Fassabender, Marion Cotillard, Jeremy Irons, Charlotte Rampling; a direção está nas costas de Justin Kurzel e o roteiro nas de Michael Lessile, Adam Cooper e Bill Collage. Lista boa, você não acha? Dava pra confiar.

Dava.

Estou aqui me prendendo que nem cervejeiro religioso entre o boteco e a igreja, pra não ficar boladão e sair cuspindo palavrão, mas tá muito difícil - Jesus, me ajuda. Confiança demais dá nisso: decepção. Nem tanta da minha parte, admito, porque não sou um fã fanático, mas a sensação que fica é  de ter assistido a um filme ruim. Um filme esquecível é o que ele é. Não estaremos daqui a dez anos falando: "Cara, lembra de Assassin's Creed? Que filmão, moleque! Que filmão". De jeito nenhum. Ainda tá confuso o porquê do resultado final ter sido aquilo, o mostrado na telona. Gente, parecia tão fácil, com base nos nomes nessa equipe, que iria sair o "filmão" dali. Pensei em estrear o ano metendo o pé direito na porta e chegar chegando. Pobre inocente. Mas, calma de novo, garoto.

A série de vídeo games possui milhões de fãs ao redor do mundo. Fãs apaixonados do tipo rasga a camisa e dá o sangue, meu irmão. Particularmente, nas palavras deste sujeito que está escrevendo, tive a oportunidade de jogar alguns títulos e confesso que gostei. Não de todos. Mas gostei. Deixo até minha menção mais que honrosa aqui ao Assassin's Creed 2. Que jogão, maluco! Tem que ver, um dos meus preferidos. Aliás, o motivo de tanto fascínio para com a franquia, acredito eu, está na premissa que ela carrega. A ideia é você controlar Desmond Miles - pelo menos nos primeiros e principais jogos -, um sujeito que se descobre pertencente a uma linhagem de assassinos. Não meros assassinos meia boca e, sim, membros de uma sociedade secreta milenar. Com a ajudinha de um treco engenhoso por demais chamado Animus e uma pequena equipe de cientistas, Desmond é tomado por uma corporação para, através da máquina, acessar as memórias de seus ancestrais e viver aquilo que eles viveram. Sendo assim, ele é capaz de visitar tempos passados, como a época das Cruzadas (AC 1), a Renascença (AC 2 e Brotherhood) e a Revolução Americana (AC 3). Fazendo uso dessas memórias de seus antepassados, testemunhamos os conflitos incansáveis entre os Assassinos e Templários, que disputam, entre outras coisas e poderes, a posse da chamada Maçã do Éden, um artefato que guarda o segredo do livre arbítrio. Uuuuhhh... Que profundo. E é, vai por mim. Legal também. O conflito perdura até os tempos atuais, com os Templários ainda influenciando o rumos da humanidade.

Imagem do jogo Assassin's Creed 2
Espero ter explicado mais ou menos o fio que conduz as histórias dos jogos, que é o que deveria também conduzir o filme. No entanto, no filme, nos deparamos com uma Animus que deixou de ser um complexo mecanismo de acesso ao código genético para virar uma espécie de máquina maluca que, na tentativa de proporcionar uma realidade aumentada, parece mais uma nova atração dos parques da Disney, levantando pra lá e pra cá quem a ela está acoplado. Isso é somente um dos numerosos vacilos. Poxa, eu falei, a produção tinha tudo pra dar certo, sabe? A Ubisoft estava envolvida no projeto, Michael Fassbender tomou a dianteira na produção, tínhamos um bom diretor e um extenso material de base, que eram os diachos dos jogos. Porém, todavia, não obstante, o filme é o quê? É o quê?

Ruim.

É ruim, cara, o filme. Infelizmente é a verdade. Houve sempre um pé atrás quanto ao negócio, pois nós sabíamos da reputação de adaptações cinematográficas de jogos, um tenebroso histórico de produções xexelentas - vide D.O.A, Far Cry, Street Fighter... Ai, não consigo terminar. Mas apesar do pessimismo, havia esperança. Assassin's Creed pareceu surgir, através dos malditos trailers, como uma luz no fim deste túnel de esgoto. Só que no final, meu amigo, percebemos que Assassin's Creed não fugiu da maldição. Maldição é maldição.

Michael Fassbender como Aguilar.
Falei lá em cima que não havia expectativa da nossa parte, procede?

Sim, procede. Mas aquela ansiedadizinha é natural, não é mesmo? O que assistimos, no entanto, foi a um projeto extremamente preguiçoso e desinteressante que, literalmente, dá sono - juro! Tipo, o roteiro, que é a alma da parada, não faz jus algum ao potencial da série. As personagens são superficiais e com motivações pobres, o plot é ralo, os diálogos são expositivos e todo o restante é morno. A história gira em torno de Cal (Michael Fassbender), um rapaz vida torta com o passado traumatizado pela morte da mãe, autoria do próprio marido. Ele cresce marcado pelo trauma e vira um criminoso, que anos mais tarde é preso e condenado a pena de morte. Ao ser executado, a LETAL injeção letal não o mata - vaso ruim não quebra, já dizia a vovó - e isso faz com que ele, americano, vá parar em Madri, num prédio de uma fundação chamada Abstergo, onde lá está a famigerada Animus. Com as explicações da cientista Sophia (Cotillard), Cal fica sabendo que um ancestral seu, Aguilar, tinha sido um assassino na época da inquisição espanhola e era de suma importância Cal acessar essas memórias com o intuito de descobrir o paradeiro da Maçã do Éden, artefato que, entre muitas definições, esconde o segredo do livre arbítrio. Segundo o próprio filme "Ela foi deixada por Deus como um mapa para entender a violência". Templários e Assassinos buscam por essa maçã, com os primeiros querendo usá-la e os segundos, guardá-la; e Cal tem a missão de achar esse troço antes dos inimigos.

Beleza, beleza, é uma sinopse legal. Pô, o cara voltar no tempo atrás de uma relíquia misteriosa que tem ligação com o mundo atual e no meio disso tudo existir conspirações etc. É bacana só no papel mesmo, porque na tela o buraco é mais embaixo. Os traumas do garoto Cal, por exemplo, logo no início, são jogados de maneira apressada, fazendo com que não haja envolvimento emocional com a personagem. O filho chega em casa, a mãe já tá morta e o pai lá do lado me vem com a miserável frase "Corra". Só. Não testemunhamos momentos anteriores entre pais e o filho, não há construção de afeto, desenvolvimento de empatia; simplesmente o matar por matar: "Mãe é mãe, então é só meter o faca que eles choram". Isso me incomoda pra caraca, pois prejudica o todo, entende? Cal termina por ser uma figura que não nos oferece empatia. Não nos importamos com os rumos de seus dilemas. Pra mandar a real, a gente caga pra ele o filme inteiro, não tememos por sua morte. Justamente ele, o fio condutor da história, a ponte mais sólida que nos liga ao enredo.

Os caminhos que levaram o sujeito até a vida de detento é a mesma coisa, nada é construído. E deixar tudo a cargo dos diálogos para explicar aquilo que deveria ser mostrado é o que empobrece a trama. "Quem eu matei foi um cafetão", disse Cal. Que se dane, cara! E daí? É assim mesmo que você quer justificar seus atos, filhão? Ó, ó, está ouvindo? São palmas. Palmas e mais palmas pra você.

A Animus no filme.

A Animus no jogo.
Mas já é, o cara não morre com a tal injeção letal e é levado para a Espanha - nada até agora foi spoiler. O prédio da Abstergo abriga outros indivíduos iguais ao Cal, que sonham com a vida de liberdade. O plot agora deveria se dedicar aos personagens secundários e ao passado do principal; à figura da cientista Sophia; ao enigmático Allan Rikkin (Irons; pai de Sophia); e às idas até a antiga Espanha. Nada, mano. O filme começa a se arrastar exatamente aí, com motivações fracas, direção perdida e relaxada, cenas de ação medíocres e confusas, design de produção irrelevante e poucas variações na trama, deixando-a ralinha, ralinha. A lista é imensa, tão imensa que você fica com sono. Cara, o atrativo principal do bagulho é você visitar tempos passados, viver dentro de uma época diferente, e os caras não desenvolvem NADA da Espanha em plena inquisição. Imagine o tanto de potencial narrativo que isso tem, pra explorar o contexto histórico, e eles cagaram. Aí, o filme fica todo naquele prédio tosco, com pessoas toscas, com uma Animus tosca e as poucas visitas ao passado, advinha - não, não, não, advinha -, são toscas.

Aguilar, o assassino? Quem é Aguilar, meu Deus? Eu lá sei quem é esse maluco. Porque foi exposto zero sobre ele, ou eu estava dormindo nessa hora, não é possível. Nas suas mãos havia uma liderança no grupo dos assassinos e a responsabilidade de ir atrás da maçã. A mesma coisa que nada, segundo a visão dos roteirista, pois a personagem é tão apática quanto o Calzão. Vai ver está na genética, né, ser chato pra cacete. O grupo de assassinos, aliás, Pai do céu, não lembro de ninguém. Ninguém se destaca, alguns nem fala ou uma mísera cena têm - senão lutas.

Eu vou parar de escrever por aqui, porque estou vendo que não consigo me conduzir pra produzir algo bom. O texto já tá ficando gigante e chato, igual o filme. A mensagem, pelo menos, foi dada, o filme é ruim. Estou chateado pelo resultado final. Não há um respeito pela excelente série de jogos e o incrível é que quanto mais penso sobre o filme, mais vejo que ele se distancia da atmosfera de Assassin's Creed. Por exemplo, o emblemático Salto de Fé (Leap of Faith), marca indiscutível dos jogos, é trazido para a adaptação de forma forçada e sem profundidade ou contexto, um fan service de péssima qualidade. Não espero assisti-lo novamente. Eles até, na cara mais mal lavada, deixam um gancho para uma continuação. Estão de sacanagem, só pode. Espero, do fundo do meu coração puto, que isso jamais ocorra. Deixa morrer, ser esquecido. Essa, diga-se de passagem, é a melhor habilidade deste filme.

A vontade é xingar muito no Twitter e amaldiçoar toda a geração de quem produziu essa joça, até chegar no Gênesis.

Mas vou jogar um Lolzinho que eu ganho mais.

domingo, 15 de janeiro de 2017

Disse

Sábado passado, na festa, Kelly estava sentada sob a claridade prateada da lua, em frente às violetas, encarando-me com aquele grande par de olhos magnetizantes. Eu estava me aproximando, quando ela enrijeceu seu espírito e levantou-se com a graça que não ouso descrever.

Encontrei-me sendo acariciado suavemente, no rosto, por suas mãos macias, tal como o toque de uma seda. De repente, vi fluir nela um manancial. Não era sólido, pois vivíamos em um país tropical; e tampouco gasoso, porque não estávamos dispostos em nenhum planeta venenoso. Era indiscutivelmente líquido. Era bonito, calmo, quente e salgado - o grupo de qualidades que não costumamos definir as lágrimas.

- Eu estou feliz - ela me disse.

Ter conhecimento da significação fez encher o meu ser de alívio, até porque constatei, enfim, que compartilhávamos do mesmo sentimento.

Tradução Espontânea:It's Always Summer Under The Sea

É Sempre Verão Debaixo do Mar

O verão é eterno
Lá sob o mar
Eu sei, eu sei, ah, ah, ah...
As aves têm escamas
E os peixes alçam em asas
Eu sei, eu sei, ah, ah, ah...

A chuva é seca
E a neve cai para o céu
Eu sei, eu sei, oh, oh, oh...
As rochas espedaçam-se
A água queima
As sombras vêm para dançar, lorde meu.
As sombras vêm para brincar.
A escuridão chega para dançar, lorde meu.
As sombras vêm para ficar.

***

Música presente na trilha sonora da 3ª temporada de Game of Thrones, cantada, no episódio, por Shireen Baratheon (Kerry Ingram). Esta singela canção, para mim, representa bastante o sofrimento e solidão que foi a vida desta menininha. Presa numa torre e prejudicada pelas marcas de uma doença grave, Shireen é o tipo de pessoa que não possuía otimistas perspectivas de vida. Mas era dotada de uma natureza graciosa e terna fragilidade que me fazia admirá-la. Uma personagem interessantíssima. É uma pena não termos mais esta pequenina na série da HBO. Uma pena.

Espero que agora, pelo menos do outro lado, ela tenha encontrado seu verão eterno. Lá sob o mar.