quarta-feira, 18 de janeiro de 2017

A Indignação de Um Nerd Interior: Assassin's Creed

Na última quinta (12) fui ao cinema pela primeira vez no ano, o que já é um baita alívio, porque 2016, meu Deus do céu, que aninho pobre de idas ao cinema! Fui pouquíssimas vezes mesmo (mas também vou te falar, algumas dessas "vezes" foram, pra mim, as melhores e mais maravilhosas. Xiu!). Sem sacanagem, acho que devo ter ido mais ao médico do que ao cinema. E isso me faz lembrar de um tal projeto "Cinemas do Rio 2016", onde a minha intenção era ir em TODOS os cinemas da cidade, todos, numa verdadeira peregrinação cinéfila. Mas enfim, eu não completei projeto nenhum, fui pouco e já perdi o fio da meada da conversa - apesar disso ser bem o feitio do filme que falarei. Mas, calma, chegaremos lá.

Peguei meu ânimo e parti pro cinema, né, eu e mais dois amigos, para assistir nada mais, nada menos, que ASSASSIN'S CREED. Pra quem não tá muito por dentro, nessas horas, boia legal, porque, oras, vê um fuzuê danado por causa do lançamento de um filme que tem no nome a palavra credo. E credo mesmo, valha-me Deus! Muito credo, cruz credo, vá de ré Satanás e dez Pai nosso pra esse filme... Mas vou me conter de novo - ao menos tentar - para não perder a razão e acabar parecendo um mimizador de internet. Então lá fomos nós três assistir ao troço. Desde agora aviso aqui que nenhum de nós estava com esse tal de fuzuê no couro. Longe disso, muito longe. Fomos de maneira totalmente okay, sem empolgação doida ou expectativa alta. Éramos apenas três caras indo ao cinema e só.


Primeiro vou situar as coisas:

O filme é uma adaptação de uma famosa franquia de jogos eletrônicos que pertence à francesa Ubisoft - tá aí o motivo da mobilização dos nerds. No elenco principal estão Michael Fassabender, Marion Cotillard, Jeremy Irons, Charlotte Rampling; a direção está nas costas de Justin Kurzel e o roteiro nas de Michael Lessile, Adam Cooper e Bill Collage. Lista boa, você não acha? Dava pra confiar.

Dava.

Estou aqui me prendendo que nem cervejeiro religioso entre o boteco e a igreja, pra não ficar boladão e sair cuspindo palavrão, mas tá muito difícil - Jesus, me ajuda. Confiança demais dá nisso: decepção. Nem tanta da minha parte, admito, porque não sou um fã fanático, mas a sensação que fica é  de ter assistido a um filme ruim. Um filme esquecível é o que ele é. Não estaremos daqui a dez anos falando: "Cara, lembra de Assassin's Creed? Que filmão, moleque! Que filmão". De jeito nenhum. Ainda tá confuso o porquê do resultado final ter sido aquilo, o mostrado na telona. Gente, parecia tão fácil, com base nos nomes nessa equipe, que iria sair o "filmão" dali. Pensei em estrear o ano metendo o pé direito na porta e chegar chegando. Pobre inocente. Mas, calma de novo, garoto.

A série de vídeo games possui milhões de fãs ao redor do mundo. Fãs apaixonados do tipo rasga a camisa e dá o sangue, meu irmão. Particularmente, nas palavras deste sujeito que está escrevendo, tive a oportunidade de jogar alguns títulos e confesso que gostei. Não de todos. Mas gostei. Deixo até minha menção mais que honrosa aqui ao Assassin's Creed 2. Que jogão, maluco! Tem que ver, um dos meus preferidos. Aliás, o motivo de tanto fascínio para com a franquia, acredito eu, está na premissa que ela carrega. A ideia é você controlar Desmond Miles - pelo menos nos primeiros e principais jogos -, um sujeito que se descobre pertencente a uma linhagem de assassinos. Não meros assassinos meia boca e, sim, membros de uma sociedade secreta milenar. Com a ajudinha de um treco engenhoso por demais chamado Animus e uma pequena equipe de cientistas, Desmond é tomado por uma corporação para, através da máquina, acessar as memórias de seus ancestrais e viver aquilo que eles viveram. Sendo assim, ele é capaz de visitar tempos passados, como a época das Cruzadas (AC 1), a Renascença (AC 2 e Brotherhood) e a Revolução Americana (AC 3). Fazendo uso dessas memórias de seus antepassados, testemunhamos os conflitos incansáveis entre os Assassinos e Templários, que disputam, entre outras coisas e poderes, a posse da chamada Maçã do Éden, um artefato que guarda o segredo do livre arbítrio. Uuuuhhh... Que profundo. E é, vai por mim. Legal também. O conflito perdura até os tempos atuais, com os Templários ainda influenciando o rumos da humanidade.

Imagem do jogo Assassin's Creed 2
Espero ter explicado mais ou menos o fio que conduz as histórias dos jogos, que é o que deveria também conduzir o filme. No entanto, no filme, nos deparamos com uma Animus que deixou de ser um complexo mecanismo de acesso ao código genético para virar uma espécie de máquina maluca que, na tentativa de proporcionar uma realidade aumentada, parece mais uma nova atração dos parques da Disney, levantando pra lá e pra cá quem a ela está acoplado. Isso é somente um dos numerosos vacilos. Poxa, eu falei, a produção tinha tudo pra dar certo, sabe? A Ubisoft estava envolvida no projeto, Michael Fassbender tomou a dianteira na produção, tínhamos um bom diretor e um extenso material de base, que eram os diachos dos jogos. Porém, todavia, não obstante, o filme é o quê? É o quê?

Ruim.

É ruim, cara, o filme. Infelizmente é a verdade. Houve sempre um pé atrás quanto ao negócio, pois nós sabíamos da reputação de adaptações cinematográficas de jogos, um tenebroso histórico de produções xexelentas - vide D.O.A, Far Cry, Street Fighter... Ai, não consigo terminar. Mas apesar do pessimismo, havia esperança. Assassin's Creed pareceu surgir, através dos malditos trailers, como uma luz no fim deste túnel de esgoto. Só que no final, meu amigo, percebemos que Assassin's Creed não fugiu da maldição. Maldição é maldição.

Michael Fassbender como Aguilar.
Falei lá em cima que não havia expectativa da nossa parte, procede?

Sim, procede. Mas aquela ansiedadizinha é natural, não é mesmo? O que assistimos, no entanto, foi a um projeto extremamente preguiçoso e desinteressante que, literalmente, dá sono - juro! Tipo, o roteiro, que é a alma da parada, não faz jus algum ao potencial da série. As personagens são superficiais e com motivações pobres, o plot é ralo, os diálogos são expositivos e todo o restante é morno. A história gira em torno de Cal (Michael Fassbender), um rapaz vida torta com o passado traumatizado pela morte da mãe, autoria do próprio marido. Ele cresce marcado pelo trauma e vira um criminoso, que anos mais tarde é preso e condenado a pena de morte. Ao ser executado, a LETAL injeção letal não o mata - vaso ruim não quebra, já dizia a vovó - e isso faz com que ele, americano, vá parar em Madri, num prédio de uma fundação chamada Abstergo, onde lá está a famigerada Animus. Com as explicações da cientista Sophia (Cotillard), Cal fica sabendo que um ancestral seu, Aguilar, tinha sido um assassino na época da inquisição espanhola e era de suma importância Cal acessar essas memórias com o intuito de descobrir o paradeiro da Maçã do Éden, artefato que, entre muitas definições, esconde o segredo do livre arbítrio. Segundo o próprio filme "Ela foi deixada por Deus como um mapa para entender a violência". Templários e Assassinos buscam por essa maçã, com os primeiros querendo usá-la e os segundos, guardá-la; e Cal tem a missão de achar esse troço antes dos inimigos.

Beleza, beleza, é uma sinopse legal. Pô, o cara voltar no tempo atrás de uma relíquia misteriosa que tem ligação com o mundo atual e no meio disso tudo existir conspirações etc. É bacana só no papel mesmo, porque na tela o buraco é mais embaixo. Os traumas do garoto Cal, por exemplo, logo no início, são jogados de maneira apressada, fazendo com que não haja envolvimento emocional com a personagem. O filho chega em casa, a mãe já tá morta e o pai lá do lado me vem com a miserável frase "Corra". Só. Não testemunhamos momentos anteriores entre pais e o filho, não há construção de afeto, desenvolvimento de empatia; simplesmente o matar por matar: "Mãe é mãe, então é só meter o faca que eles choram". Isso me incomoda pra caraca, pois prejudica o todo, entende? Cal termina por ser uma figura que não nos oferece empatia. Não nos importamos com os rumos de seus dilemas. Pra mandar a real, a gente caga pra ele o filme inteiro, não tememos por sua morte. Justamente ele, o fio condutor da história, a ponte mais sólida que nos liga ao enredo.

Os caminhos que levaram o sujeito até a vida de detento é a mesma coisa, nada é construído. E deixar tudo a cargo dos diálogos para explicar aquilo que deveria ser mostrado é o que empobrece a trama. "Quem eu matei foi um cafetão", disse Cal. Que se dane, cara! E daí? É assim mesmo que você quer justificar seus atos, filhão? Ó, ó, está ouvindo? São palmas. Palmas e mais palmas pra você.

A Animus no filme.

A Animus no jogo.
Mas já é, o cara não morre com a tal injeção letal e é levado para a Espanha - nada até agora foi spoiler. O prédio da Abstergo abriga outros indivíduos iguais ao Cal, que sonham com a vida de liberdade. O plot agora deveria se dedicar aos personagens secundários e ao passado do principal; à figura da cientista Sophia; ao enigmático Allan Rikkin (Irons; pai de Sophia); e às idas até a antiga Espanha. Nada, mano. O filme começa a se arrastar exatamente aí, com motivações fracas, direção perdida e relaxada, cenas de ação medíocres e confusas, design de produção irrelevante e poucas variações na trama, deixando-a ralinha, ralinha. A lista é imensa, tão imensa que você fica com sono. Cara, o atrativo principal do bagulho é você visitar tempos passados, viver dentro de uma época diferente, e os caras não desenvolvem NADA da Espanha em plena inquisição. Imagine o tanto de potencial narrativo que isso tem, pra explorar o contexto histórico, e eles cagaram. Aí, o filme fica todo naquele prédio tosco, com pessoas toscas, com uma Animus tosca e as poucas visitas ao passado, advinha - não, não, não, advinha -, são toscas.

Aguilar, o assassino? Quem é Aguilar, meu Deus? Eu lá sei quem é esse maluco. Porque foi exposto zero sobre ele, ou eu estava dormindo nessa hora, não é possível. Nas suas mãos havia uma liderança no grupo dos assassinos e a responsabilidade de ir atrás da maçã. A mesma coisa que nada, segundo a visão dos roteirista, pois a personagem é tão apática quanto o Calzão. Vai ver está na genética, né, ser chato pra cacete. O grupo de assassinos, aliás, Pai do céu, não lembro de ninguém. Ninguém se destaca, alguns nem fala ou uma mísera cena têm - senão lutas.

Eu vou parar de escrever por aqui, porque estou vendo que não consigo me conduzir pra produzir algo bom. O texto já tá ficando gigante e chato, igual o filme. A mensagem, pelo menos, foi dada, o filme é ruim. Estou chateado pelo resultado final. Não há um respeito pela excelente série de jogos e o incrível é que quanto mais penso sobre o filme, mais vejo que ele se distancia da atmosfera de Assassin's Creed. Por exemplo, o emblemático Salto de Fé (Leap of Faith), marca indiscutível dos jogos, é trazido para a adaptação de forma forçada e sem profundidade ou contexto, um fan service de péssima qualidade. Não espero assisti-lo novamente. Eles até, na cara mais mal lavada, deixam um gancho para uma continuação. Estão de sacanagem, só pode. Espero, do fundo do meu coração puto, que isso jamais ocorra. Deixa morrer, ser esquecido. Essa, diga-se de passagem, é a melhor habilidade deste filme.

A vontade é xingar muito no Twitter e amaldiçoar toda a geração de quem produziu essa joça, até chegar no Gênesis.

Mas vou jogar um Lolzinho que eu ganho mais.

Nenhum comentário:

Postar um comentário