Olá, companheiro viajante! Saudações andarilhas a todos.
Se não lhe for chato ouvir algumas palavras de elucidação, as quais costumamos chamar de conselho, dedique um pouco da sua atenção a este errante calejado.
As estradas certamente reservam perigos que não podemos prever. Sempre foi assim. Mas é válido lembrar que a magia da coisa está nisso. A propósito, eu nunca saio em uma aventura que não me ofereça riscos; pois pra que servem as viagens se não houver aquela sensação de não ter o controle de tudo?
Você me ouviu?
As estradas não mentem.
Alguns até dizem: "Olha, você uma hora vai é morrer se continuar pensando assim". Blah! Quem fala essas balelas não costuma viajar e de tabela não costuma viver - e aí, se não vivem, por que a morte importa tanto a eles, afinal?
Sei lá, não imagino aventuras sem riscos. Seria um crime investir em uma sabendo que tudo será um mar de flores com perfume de aloe vera e, mesmo assim, ao final dela, ter a cara de pau de regressar com a mesma satisfação que Santos Dumont experimentou ao pousar sua engenhoca, ou Martin Luther King, por ter marchado.
Não seja o tipo fraco de viajante. Não desperdice o seu talento inato de atrair toda sorte de perigos para o teu cangote. Perceba o valor que isso tem, para não achar que a viajem é apenas mais um dia comum. Viagens são feitas para loucos varridos, com deficiência em se manterem presos a correntes que são invisíveis o bastante para alimentar uma liberdade ilusória. Assuma a loucura como quem assume o desconforto de um sapato apertado já sabendo do satisfatório prazer que será retirá-lo.
A loucura está aqui, junto com as ameças, e não há período melhor para elas se proliferarem do que a noite. Sim, está em nosso código genético temê-la, até porque é ela quem melhor sabe atrair riscos. Existem noites que são verdadeiramente escuras, sem estrelas ou lua, sem brisa ou cricrilo que nos atinja e faça constatar outra vida além da nossa. São noites de desolação e relento, onde não é possível enxergar nada além de pessimismo, somente solidão.
Lá se vão nossas esperanças diante das noites que não se pode impedir - e qualquer viajante de respeito, caro companheiro, tem medo. O medo é a mais excitante das aventuras. Tenha-o sempre na mochila consigo, deixando claro a ele quem está no controle. Porque com a noite a dinâmica é diferente. As noites são naturais, previsíveis e implacáveis. Noites sempre vêm e todo esforço contrário é inútil.
Contudo, tão certa quanto a sua chegada, é a sua partida. Noites são incompetentes em durarem mais do que um choro, mais do que uma angústia... um susto. A tempestade, por vezes, é uma cartada desesperada da noite em golpear o ânimo de um viajante. Mas encare os pingos e trovoadas como berros de uma criança mimada que pede o brinquedo de uma vitrine. E esse brinquedo, meu caro, é você; só que o papai não vai comprar.
Dizem que a noite é mais escura bem antes do amanhecer. Talvez seja por isso que o viajante, ao deparar-se com momentos de completo breu, não deve temer. O amanhecer está vindo.
Portanto, beba um farto gole d'água, bata as solas dos pés com firmeza e tome o seu roteiro e cajado - se tiver algum - e aprecie o horizonte borrar-se em tímidas cores quentes. Há sempre uma manhã perto de todo aventureiro que aguenta as pontas e vigia o céu. Vigie o seu também e cante as canções dos destruidores de noites com todo o esplendor que é saborear a aurora de um novo dia, que, acredite, está vindo para você.
Mantenha o curso no sentido da vida: pra frente.
Boa viagem, nobre viajante.
Este comentário foi removido pelo autor.
ResponderExcluirQuero mais textos nesse blog!! Pretinho
ResponderExcluirBeijo, da sua amiga chata.