"Você tem essa mania de me dizer que estou 'perdido'. Bem, não que por algum acaso eu já tenha me achado neste mundo turbulento, pois tal coisa, te garanto, jamais fiz e acho meio improvável fazê-lo algum dia. Porém, todavia, entretanto, não - quer - dizer - que - estou - perdido. Eu só não cheguei ainda. Pergunto ali e pergunto acolá sobre esse negócio de se achar, mas oras, ninguém sabe coisa alguma! Por que eu, miserável ser errante, deveria portar esse item tão raro e valioso? Só de perguntar já me soa arrogante. Agora, hei de admitir que enrolo nesse troço aí. Na verdade, passo em tantos galhos, dos mais tortos aos mais alinhadinhos, desprovido de qualquer pretensão, que até o pouco de bom-senso que possuo não configuraria isso como sendo um procurar. Mas é um, sim, lá num fundo tão fundo que o pobre diacho do 'perdido' venha a calhar de uma certa forma. E pensando bem, aqui nos domínios de um galho lodoso e sinuoso que faço morada há três dias, essa caça é tão eterna quanto o tédio que deve ser se achar por completo. Convenção social ou não, eu não sei o que quero, você não sabe o quer, ninguém sabe! - E nem se toda a sanidade mental minha esvaísse perante uma doença do tempo, ainda assim, não consideraria o termo 'perdido' em meus cunhos de julgamento alheio. Prefiro usar um mais simplório e filosófico: Vivendo - com V maísculo mesmo".
domingo, 30 de agosto de 2015
Quanto ao Absurdo de Estar Perdido ou Achado
segunda-feira, 24 de agosto de 2015
Matina Audácia
Despertado antes do canto, eu fui. Vontade alguma me ocorria para nada, pois o sono ainda me entorpecia, vinda rotina. Sob a míngua luminosidade da matina, expus-me ao frio que molengava a todos. Os mesmos fulanos se arrastando como lesmas pelo asfalto áspero e bocejadores da preguiça iam ao longo como um coral lamentoso, meu âmbito. De qualquer lugar que convém haver calor ou cantarolar de pássaros, sinal jamais deu e mínima acerca, ninguém ofereceu. Assim o tempo decorreu e mantém. O clima era tão pra baixo quanto a neblina que marchava rente ao chão em modorrenta lentidão. Nós, meros lerdos, cuja as roupas eram as nuvens, marchávamos com igual indiferença, obedientes ao sistema, como sombras carentes de corpo e portadores de cegueira cinza.
Em algum de repente mais súbito que um segundo, cessei meus passos desleixados e me entreguei a um questionamento, coisa qual acho cansativa - E reintegro aqui que não há exatidão na ordem de tais ocorridos, pois procrastino. E digo-lhe mais, parei não pela pertinência do pensamento, petulante comichão muscular da consciência, mas, sim, pelo doce que emanava a essência, diferente. Rasguei ao meio uma volta e minha farda junto, contrariei a manada degustando o teor ácido da rebeldia e vi o turvo dissipar-se, derramando cor das bordas até o núcleo. Não costuma ser costume, tampouco prudente, desligar-se do coral. Entretanto, inédito acorde seduzia e eu me entregava à travessura. Minha alma despida da neblina havia e então achei conveniente correr, como um símbolo de liberdade, clichê.
O frescor trouxe uma brisa a tons de amarelo que povoaram todas as dimensões, sendo aquele colossal tapete azul, meu novo acorde, quebradiço, mas tão reconfortante quanto salgado. Como criança, experimentei tudo com euforia e edifiquei coisas à base de areia e ingenuidade. Brinquei até me esquecer do começo ou do fim. Vivi a cor, a natureza, a paz e a liberdade. Eu percebi. Senti-me eterno. E agora rio sem-graçado frente às palavras que escrevo. Ó, caro leitor, perdoe este miserável lunático. Ele acha graça em demasiar as coisas e divaga sobre fantasias romantizadas entre os intervalos de remédios. Todavia, nem tudo fora fruto de devaneios, pois punhos ferozes seguem toda vez que relato tal acontecido e isso inquieta-me mais do que qualquer comichão. Não mais percebo dor ou visão, devido a punição em locar-me dentro de neblina mais densa que antes.
Vive-se tempo de mínguas. Se algum dia, por acaso ou querer divino, alguém achar essa prosa, terá destransformado minha liberdade da imaterialidade e poderá igualmente cessar os passos desleixados, caso cor desmanche a neblina. E enfim, existência menos vão teremos feito.
Boa sorte, carta minha.
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